Quando foi fundada em 2015, o laboratório de pesquisa em inteligência artificial OpenAI era uma organização sem fins lucrativos. A missão idealista: garantir que o trabalho de alto risco em inteligência artificial servisse a todo o mundo. Isso era necessário porque, segundo a crença fervorosa dos fundadores, a IA iria transformar o mundo inteiro.
Desde então, a OpenAI alcançou muito mais do que se imaginava. “Inteligência artificial geral” parecia um sonho distante em 2015, mas hoje temos IA interativa, criativa e capaz de passar na maioria dos testes de competência humana. Muitos especialistas acreditam que a inteligência geral está virando uma esquina. A OpenAI, que ao longo dos anos se transformou de um laboratório sem fins lucrativos para uma das startups mais valorizadas da história, esteve no centro dessa transformação.
No entanto, essa jornada não foi isenta de problemas. Embora tenha basicamente se tornado uma empresa, a OpenAI usava uma governança sem fins lucrativos para manter o foco em sua missão. O CEO Sam Altman tranquilizou o Congresso, afirmando que não tinha participação acionária na empresa, e o conselho sem fins lucrativos ainda mantinha autoridade para mudar o rumo, caso considerasse que a empresa havia se desviado de sua missão.
Isso acabou colocando o conselho em conflito com Altman em novembro passado, em um embate complicado que o CEO venceu. Quase toda a equipe de liderança original deixou a empresa. Desde então, o conselho foi amplamente substituído e funcionários de destaque saíram em ondas, alguns alertando que já não acreditam que a OpenAI construirá uma superinteligência de forma responsável. A Microsoft, maior investidor da OpenAI, parece cada vez mais ansiosa para que a empresa abandone a construção de superinteligência e se concentre em criar um produto lucrativo.
Agora, a OpenAI está tentando fazer a transição para uma estrutura corporativa mais convencional, possivelmente tornando-se uma empresa com fins lucrativos de benefício público, como a concorrente Anthropic. Contudo, conversões de sem fins lucrativos para com fins lucrativos são raras, e há muita desinformação sobre o que, exatamente, “a OpenAI se tornar uma empresa com fins lucrativos” significa.
Elon Musk, que cofundou a OpenAI, mas saiu após uma disputa de liderança, descreve a transição como uma tomada de poder, argumentando em um processo judicial recente que Altman e seus associados “esvaziaram sistematicamente a organização sem fins lucrativos de sua tecnologia valiosa e pessoal” em um esquema para enriquecer. A OpenAI refutou as alegações, classificando o processo como uma “campanha de assédio” por parte de Musk.
Embora Musk tenha suas próprias razões para ser competitivo com a OpenAI, muitas pessoas parecem acreditar que a empresa poderia simplesmente adotar um rótulo de “com fins lucrativos” e continuar com as operações. Isso, entretanto, não é possível. O que realmente está acontecendo é uma negociação complexa e delicada: a venda de todos os ativos valiosos da organização sem fins lucrativos para a nova entidade com fins lucrativos, em troca de a entidade sem fins lucrativos continuar existindo e se tornando um grande investidor na nova empresa.
A questão principal é: quanto valem esses ativos, e o conselho da organização sem fins lucrativos conseguirá um acordo justo com a OpenAI (e a Microsoft)? Até agora, essas negociações de alto risco ocorreram quase inteiramente nos bastidores, e muitas questões cruciais têm recebido pouca cobertura pública.
Em 2019, o modelo sem fins lucrativos começou a enfrentar dificuldades. A OpenAI atraiu uma equipe incrível e publicou pesquisas impressionantes, mas estava claro que o ambicioso objetivo de construir uma inteligência artificial geral seria muito caro. Para financiar essa missão, a empresa adotou uma estrutura híbrida: um conselho sem fins lucrativos controlando uma empresa com fins lucrativos, com os retornos dos investidores limitados a 100 vezes o investimento original.
Esse modelo, no entanto, mostrou-se problemático, especialmente em 2023, quando o conselho demitiu Sam Altman. A demissão, que ocorreu em um momento delicado, gerou revolta entre os funcionários e uma reviravolta nos bastidores. Altman acabou sendo reintegrado como CEO, e alguns membros do conselho que apoiaram sua demissão renunciaram.
Rumores de que a OpenAI estava se preparando para se tornar uma entidade totalmente com fins lucrativos começaram a circular desde o incidente. Nas últimas semanas, esses rumores se tornaram mais concretos, com o último financiamento incluindo compromissos para a transição ocorrer nos próximos dois anos, sob pena de reembolso aos investidores.
A OpenAI está entrando em uma nova era, e resta saber o que isso significará para a entidade sem fins lucrativos, que possui ativos avaliados em dezenas de bilhões de dólares.