O limite entre compartilhamento e oversharing nos relacionamentos online

Oversharing

Criar um perfil em sites de encontros online pode parecer como criar um personagem no jogo The Sims. Você lista seus hobbies, se deseja ter filhos, seus hábitos de consumo de álcool ou cigarro, e outros detalhes pessoais que ficam expostos para potenciais parceiros. No entanto, quando a conversa evolui de conhecer alguém virtualmente para marcar um encontro presencial, surge a dúvida: quando o ato de compartilhar informações se torna um excesso?

Se expor nas redes sociais é uma coisa, mas, quando o objetivo é construir um relacionamento, quais são os limites do oversharing? Existe um momento em que compartilhar demais pode ser prejudicial?

Por que tendemos a compartilhar demais nas redes sociais?

Durante a cuffing season — período entre outubro e o Dia dos Namorados, em que muitas pessoas buscam relacionamentos —, é comum observar um aumento de casais nas redes sociais. Esse fenômeno tem raízes biológicas, como a queda nos níveis de serotonina nos meses mais frios, o que nos faz buscar conexão.

Mas será que estamos nos expondo demais em busca dessa conexão? Ser transparente sobre nossas experiências passadas é diferente de compartilhar excessivamente detalhes íntimos.

A experiência de Jasmine Denike com oversharing

A criadora de conteúdo Jasmine Denike ganhou notoriedade no TikTok com sua série sobre encontros em Londres. Inicialmente, Denike compartilhava abertamente detalhes sobre seus parceiros. Porém, após o fim de relacionamentos, percebeu o impacto negativo dessa exposição. “Ter que apagar fotos depois me fez repensar sobre manter meu relacionamento privado, mas não secreto“, afirma.

Embora tenha parado de compartilhar informações íntimas, ela ainda falava sobre seus sentimentos e atividades com o parceiro, expondo-se ao imprevisível algoritmo do TikTok. Mesmo assim, Denike considera seu relacionamento bastante reservado. A experiência online também aumentou sua confiança: “Fiquei mais confortável para me abrir porque já havia compartilhado essas histórias antes”.

Oversharing e o risco de compartilhar traumas

Compartilhar online é diferente de compartilhar com alguém que estamos conhecendo. A terapeuta Georgina Sturmer alerta sobre a necessidade de entender o motivo pelo qual sentimos vontade de dividir informações pessoais cedo demais. “Estamos esperando que o outro nos salve ou apenas testando se podemos confiar nele?”, questiona.

Sturmer destaca que o conteúdo postado online permanece indefinidamente, o que pode influenciar o modo como alguém nos percebe. Esse histórico digital pode remover as camadas iniciais e sutis de conhecimento mútuo necessárias para construir uma relação sólida.

Já a psicóloga Dr. Carolyn Keenan aponta a importância de encontrar um equilíbrio entre compartilhar e proteger a própria vulnerabilidade. Ela menciona o conceito de “trauma sharing”, que ocorre quando alguém compartilha traumas cedo demais, criando uma falsa sensação de intimidade.

“Relacionamentos mais saudáveis se constroem com base em experiências positivas e valores compartilhados, não apenas em traumas”, explica Keenan.

O fenômeno do “Cobwebbing” nos relacionamentos

O especialista em relacionamentos da Tinder, Paul Brunson, descreve o conceito de “cobwebbing”, que incentiva as pessoas a deixarem o passado para trás para se abrirem a novas conexões. “Manter laços com experiências e objetos do passado pode nos impedir de criar conexões genuínas”, afirma.

Quando é o momento certo para se abrir?

Compartilhar aspectos profundos do passado cedo demais pode ser visto como vulnerabilidade excessiva ou até trauma dumping. No entanto, Brunson acredita que discutir experiências difíceis pode fortalecer o vínculo entre o casal. “A vulnerabilidade cria intimidade emocional, essencial para uma base sólida no relacionamento”, diz.

Porém, ele alerta para a importância de respeitar o tempo do outro e focar no presente. “O parceiro ideal se interessa mais pelo seu futuro do que pelo seu passado.”

Nas redes sociais, a falta de resposta imediata pode dar a falsa sensação de segurança. Mas compartilhar experiências cara a cara exige coragem. Brunson recomenda priorizar o autocuidado e a cura emocional, evitando usar redes sociais ou novas relações como fuga.

“Concentre-se no presente e construa conexões baseadas em interações positivas atuais, não em vínculos passados”, aconselha.

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