Em 2020, durante a pandemia, o governo federal dos EUA reconheceu a desigualdade digital que afetava milhões de americanos e prometeu investimentos para expandir o acesso à internet, especialmente em comunidades indígenas. A resposta incluiu subsídios tecnológicos e um financiamento histórico para infraestrutura de banda larga. Parte desse recurso foi direcionada à solução das lacunas de conexão em áreas indígenas, problema que persiste há décadas.
Mesmo com esses investimentos, o cenário pouco mudou. Dados recentes mostram que apenas 71% das residências indígenas têm acesso à banda larga, contra 90% da média nacional, segundo o Censo dos EUA. O acesso à internet de alta velocidade é considerado um determinante social de saúde e um pilar essencial para educação, crescimento econômico e inclusão digital, de acordo com a Casa Branca.
Segundo o American Indian Policy Institute (AIPI), 18% dos residentes de reservas indígenas não têm acesso à internet, enquanto 33% dependem exclusivamente de smartphones. Estudo de 2023 identificou que a velocidade de download nas áreas tribais é 75% mais lenta do que em regiões vizinhas não indígenas, com preços de serviços básicos 11% mais altos. Essa disparidade compromete o acesso a serviços essenciais, como benefícios sociais, segundo o Center for Retirement Research.
Apesar dos bilhões destinados a programas como o Affordability Connectivity Program e o Tribal Broadband Connectivity Program, os resultados ainda são limitados. Segundo Matthew Rantanen, especialista em conectividade indígena, projetos de fibra óptica levam anos para serem implementados devido a processos burocráticos, como aprovação de direitos de passagem e consultas com órgãos federais.
Empresas privadas, como a AT&T, têm firmado parcerias com comunidades indígenas. A operadora lançou projetos de conexão com a San Pasqual Band of Mission Indians, oferecendo banda larga de até 5GB para 500 residentes. No entanto, a dependência de empresas privadas levanta preocupações sobre soberania digital e privacidade de dados.
Para preservar o controle sobre suas redes, líderes indígenas têm investido em projetos próprios. O Tribal Digital Village e o Tribal Broadband Bootcamp são exemplos de iniciativas que capacitam comunidades a construir e gerenciar suas infraestruturas digitais. O recém-lançado Center for Tribal Digital Sovereignty também apoia a definição de políticas de soberania digital.
Enquanto bilhões seguem sendo investidos, o progresso é lento e incerto. A possibilidade de mudanças políticas, como o retorno de Donald Trump à presidência, preocupa líderes indígenas quanto à continuidade do financiamento. Para Rantanen, é fundamental que comunidades indígenas assegurem seus recursos antes da próxima posse presidencial.