Segundo CCDH, algoritmo do X/Twitter favoreceu Donald Trump nas eleições estadunidenses

Durante as eleições presidenciais dos Estados Unidos em 2024, a plataforma X, de Elon Musk (anteriormente conhecida como Twitter), alcançou um “recorde de utilização”. Em paralelo a isso, um estudo do Center for Countering Digital Hate (CCDH) aponta que o proprietário da rede social pode ter manipulado o algoritmo para favorecer publicações pró-Trump.

Musk, política e o X nas eleições americanas

Elon Musk, um conhecido apoiador de Donald Trump, expressou publicamente sua satisfação com a vitória do republicano, incluindo o compartilhamento de uma imagem gerada por IA onde ele “carrega” um lavatório para a Casa Branca com a legenda: “Let that sink in”, uma referência à sua aquisição do X em 2022.

Enquanto Musk celebrava o “recorde de utilização” da plataforma, estudos mostraram que várias de suas publicações continham informações falsas ou enganosas sobre as eleições. Segundo o CCDH, pelo menos 87 dessas postagens, identificadas por verificadores de fatos como enganosas, somaram 1,7 bilhões de visualizações. Em comparação, elas geraram o dobro de engajamento de todos os anúncios políticos combinados na plataforma, o que equivaleria a cerca de 24 milhões de dólares investidos em anúncios pagos.

Uma das alegações falsas mais vistas envolvia estados decisivos e a suposta “importação de eleitores”, alcançando 21 milhões de visualizações.

Manipulação do algoritmo e aumento de engajamento

O estudo do CCDH também destaca mudanças significativas no engajamento da conta de Musk desde julho de 2024. As visualizações de suas publicações aumentaram 138%, os retweets cresceram 238% e os “likes” subiram 186%, números muito superiores aos de outras contas políticas de destaque na rede.

Além disso, o relatório sugere que o algoritmo do X foi ajustado para amplificar desproporcionalmente publicações de Musk, frequentemente favoráveis a Trump e críticas à candidata democrata Kamala Harris. Essa manipulação teria contribuído para aumentar a visibilidade do conteúdo pró-Trump em detrimento de mensagens concorrentes.

As ações de Musk, segundo os pesquisadores, “torpedearam a fantasia de que redes sociais como o X são neutras”. Anteriormente, o bilionário já havia mobilizado uma equipe para aumentar o alcance de suas publicações, como revelado pelo The Verge.

Eleição de Trump deve afetar o mercado de inteligência artificial

Na manhã de quarta-feira, Donald Trump foi declarado vencedor da eleição presidencial dos EUA, preparando o cenário para mudanças significativas na política federal de IA ao assumir o cargo no próximo ano.

Entre suas intenções está a desarticulação imediata da ordem executiva sobre IA estabelecida por Biden em outubro de 2023. Biden criou uma supervisão abrangente do desenvolvimento de IA, incluindo a criação do Instituto de Segurança de IA dos EUA (AISI). Ela exige que empresas apresentem relatórios sobre metodologias de treinamento e medidas de segurança, incluindo dados de testes de vulnerabilidade. Além disso, a ordem atual orienta o Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia (NIST) do Departamento de Comércio a desenvolver diretrizes para ajudar as empresas a identificar e corrigir falhas em seus modelos de IA .

Apoiadores de Trump, como a deputada Nancy Mace e o senador Ted Cruz, têm criticado essas medidas. Em março, Mace alertou que os requisitos de relatórios podem desestimular a inovação e impedir desenvolvimentos como o ChatGPT. Cruz caracterizou os padrões de segurança de IA do NIST como uma tentativa de “controle por normas progressistas” .

Impacto Comercial e Outros Efeitos

As propostas de Trump incluem uma tarifa de 10% sobre todas as importações dos EUA e uma tarifa de 60% sobre produtos chineses, o que poderia dificultar o acesso da indústria de IA a tecnologias essenciais, especialmente GPUs, fundamentais para treinamento e execução de seu trabalho. Também é possível que Trump intensifique o controle de exportações de chips e modelos de IA para a China .

Outras propostas de Trump incluem a restrição a vistos H-1B e a expansão do desenvolvimento de petróleo e gás, medidas que se aplicadas poderiam impactar a capacidade de empresas de IA de recrutar talentos e acessar recursos computacionais .

Caso Trump realmente remova a regulamentação federal de IA, os governos estaduais estadunidenses poderão preencher essas lacunas regulatórias, como é comum nos Estados Unidos. Por exemplo, Tennessee, Colorado e Califórnia já adotaram medidas para regular IA, incluindo proteção contra clonagem de voz e regulamentações contra deepfakes, mostrando que os estados podem adotar políticas próprias caso a regulamentação federal seja desfeita. Em efeito cascata, países pelo mundo que também são impactados pelas tecnologias estadunidenses enfrentariam a necessidade de implementarem leis que ofereçam o mínimo de proteção às pessoas, o que poderia levar tempo e gerar um status de insegurança em primeiro momento.

Por fim, as fronteiras nem sempre precisas entre o pessoal e o institucional, marca do primeiro governo Trump, poderiam gerar desequilíbrio de mercado, com empresas gerenciadas por seus apoiadores conseguindo mais livre acesso ao lobby presidencial em busca de condições exclusivas de atuação. Elon Musk, que apoiou Trump na eleição, por exemplo, tem projetos na área de IA e tem perdido espaço de mercado, podendo agora utilizar de suas relações para recuperar terreno.

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